sábado, 30 de abril de 2011

Você sabe o que significa "A tonga da milonga do cubeletê"?


Vinícius de Moraes

Ano de 1970.
Vinícius e Toquinho voltam da Itália onde haviam acabado de inaugurar a parceria com o disco "A Arca de Noé", fruto de um velho livro que o poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino.
Encontram o Brasil em pleno "milagre econômico", que milagre... a censura estava em alta, DOPS, ato 5, torturas... a Bossa Nova em baixa.
Opositores ao regime pagando com a liberdade e com a vida o preço de seus ideais.
O poeta Vinicios é visto como comunista pela cegueira militar e ultrapassado pela intelectualidade militante, que pejorativa e injustamente classifica sua música de easy music.
No teatro Castro Alves, em Salvador, é apresentada ao Brasil a nova parceria.
Vinícius está casado com a atriz baiana Gesse Gessy, uma das maiores paixões de sua vida, que o aproximaria do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois.
Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles "tonga da mironga do cabuletê", que significa "o pêlo do cu da mãe".

O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde oliva inspiram o poeta.
Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves.
Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa.
E o poeta ainda se divertia com tudo isso:


 "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô".


Fonte: Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão; uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.


Tonga da Mironga do Cabuletê
Toquinho e Vinicius de Moraes

Eu caio de bossa eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa xingando em nagô
Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê




Vinícius e Toquinho

terça-feira, 26 de abril de 2011

CANTO DE VÁRZEA

Nilson Dezincourt, Eduardo Serique, Edmar Rosas, Nicolau Paixão, Annderson Dezincourt, Pixica, João Otaviano, Rolinha, Everaldinho e Floriano

O movimento “Canto de Várzea” surgiu da mesma maneira que surge a maioria dos movimentos populares, de forma espontânea e desinteressada. Era uma maneira de reunir os amigos, de descontrair e tocar uma viola.
O objetivo da música feita era despertar nas pessoas um olhar novo diante das coisas que lhe eram comuns como Santarém e suas belezas. Coube ao artista mostrar uma forma nova de ver o velho, aquilo que a maioria dos santarenos já conhecia, mas que eram desconhecidas daqueles que não conhecessem o interior do Pará.
No início eram Beto Paixão, Nicolau Paixão e Jefferson Rocha. A denominação partiu de um sorteio, no qual cada participante escrevia um nome num papel. Venceu “Canto de Várzea”.  Nome sugestivo, pois, faz referência a um lado bem característico da nossa região, além de sugerir um estilo próprio, genuinamente amazônida.
A primeira apresentação do grupo aconteceu na sede do São Francisco, no início da década de oitenta (80). O grupo se apresentou com Marreta na bateria, Malá no baixo, Jefferson no violão (solo), Nicolau no violão (base), Edson no teclado e Beto Paixão (voz), Sandra Paixão (voz), Emirzinho (Emir Bemerguy Filho) (voz) e Mariano (voz). Nesse início as composições eram de autoria do Nilson (Dezincourt), Beto (Paixão) e Everaldinho (Everaldo Martins Filho).
A década de 1980 foi de muita euforia em todo o Brasil, em Santarém não poderia ser diferente. Acontecia o movimento pelas eleições diretas e em Santarém ocorria a fundação do São Francisco Futebol Clube, a construção do novo aeroporto, o asfaltamento da cidade, os aparelhos de TV em cores.
Esse clima de euforia acabou por contagiar a música. Como nessa época a música era ensinada como disciplina obrigatória na maioria das escolas, esses alunos tinham vontade de mostrar seu trabalho, seja para os amigos nas horas de lazer ou realizando festivais de música - famosos nessa época em Santarém e no Brasil também como os festivais realizados pelas emissoras de televisão e transmitidos para todo o país.
Como todo movimento surgido de maneira espontânea, enfrentou obstáculos no início. Os instrumentos foram conseguidos com o Marreta (que até hoje tem uma banda em Santarém). Receberam apoio logístico da Funerária São João, de Bianor Carneiro, e dos amigos Nelson Pantoja, Rolinha (Antônio Dezincourt) , Frota e Enilda (Lima). Outros foram e são incansáveis por sua colaboração, incentivo e admiração.
A partir de então, o grupo fincou suas raízes, amadureceu, deu seus frutos e fez história. Contou também com as participações de João Otaviano Matos Neto, Antônio Álvaro, Otacílio Amaral e Samuel Lima. Bem como contou com as participações dos cantores Maria Lídia e Zé Azevedo, que também têm laços com o grupo apesar de suas carreiras solo.
É uma música que fala principalmente de Santarém, de suas belezas e encantos, mas fala também da preocupação com o meio ambiente, fala das lendas, das comidas da região, das manifestações artísticas e culturais. É perfeitamente possível reconhecer Santarém nas letras dessas canções. Bem como dá para reconhecer os ritmos característicos do norte do Brasil como o carimbó, o síria e o boi bumbá.

terça-feira, 19 de abril de 2011

http://www.4shared.com/audio/7NavrpqW/GILBERTO_GIL_-_dro.htm
Link para Drão do Gilberto Gil

Música Eletrônica




Imagem do Intonarumori






Música eletrônica é toda música que é criada ou modificada através do uso de equipamentos e instrumentos electrónicos.
 Por sua história passou de uma vertente da música erudita (fruto do trabalho de compositores visionários) a um elemento da música popular, primeiramente bastante relacionado ao rock e posteriormente discernindo-se como um gênero musical próprio.
Luigi Russolo (no início do século XX) acreditava que a vida contemporânea era demasiado ruidosa e que os ruidos deveriam ser utilizados para música.
Em 11 de Março de 1913 ele publicou o tratado A Arte de ruídos (L'arte dei rumori). Ele é considerado o primeiro teórico da música eletrônica. Russolo inventou e construiu instrumentos incluindo intonarumori ( "intoners" ou "ruído de máquinas"), para criar "ruídos" de desempenho. Infelizmente, nenhum de seus originais intonarumori sobreviveu a Segunda Guerra Mundial.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Por que um CD de áudio dura aproximadamente 70 minutos?

A Nona Sinfonia  de Beethoven ("Coral") é uma das obras mais conhecidas do repertório musical ocidental, mas a maioria das pessoas não reconhece sua importância.

Além de mudar a sequência dos movimentos, colocando o scherzo antes do movimento lento, Beethoven inclui um coral no último movimento que ficava esperando a sinfonia inteira para se apresentar.

A Nona é tão importante que foi lembrada pelos engenheiros da Sony, multinacional japonesa, quando do ínício da comercialização do Compact Disc. Eles não entravam em consenso quanto ao tempo de duração de um CD, então pensaram que ele deveria ter espaço suficiente para que a Nona coubeçe nele.

Então, devemos a Beethoven o fato de um CD de áudio ter aproximadamente 70 minutos de duração.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Drão (Poesia linda e que diz tudo)

O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada.

Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.

Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.

Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.

A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."


Drão
Drão o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminhadura
Dura caminhada pela estrada escura
Drão não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão, estende-se, infinito
Imenso monolito, nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Cama de tatame pela vida afora
Drão os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão!
Morrenasce, trigo, vive morre, pão
Drão