sábado, 18 de junho de 2011

A paz

Música de João Donato
Letra de Gilberto Gil


A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais


Gil conta a história dessa música no livro "Gilberto Gil Todas as Letras" de 1996.

"João DOnato apareceu em casa um dia com uma fita com várias canções, todas chamadas 'Leila' - 'Leila 1,2,3,4' - umas quinze ou dezesseis no total. Eu disse: 'Deixa pra outro dia, hoje a gente não tem tempo...'. E ele: 'Não, vá, apure aí, faça alguma coisa'. E começou a cochilar ao meu lado. A imagem dele dormindo, sossegado, em plena luz do dia, me achamou a atenção para o sentido da paz. Me veio à lembrança o título do livro Guerra e Paz, de Tolstoi, e a letra foi sendo construída sobre essa contradição, reinterando minha insistência sobre o paradoxo.
Essa é a recorrência báscica no meu trabalho: yin e yang, noite e dia, sim e não, permanência e trasncendência, realidade e virtualidade: a polaridade criativa (e criadora).

terça-feira, 7 de junho de 2011

O RITMO MUSICAL NO MUNDO E NA HISTÓRIA


Marialda de Matos Santos[1]

Nos mais variados períodos da história da música o ritmo foi tratado das mais diferentes maneiras. Seja supervalorizado como no Barroco ou na música do século XX, ou desvalorizado como no Romantismo, mas o que fica claro é que o ritmo possui uma importância grande na música, seja por sua presença ou por sua ausência.

Palavras – chave: ritmo, música, rítmica


Para analisarmos o ritmo na música oriental devemos tomar como base a música indiana que possui um ritmo de caráter plástico, pois nesse sentido ela se distingue da música européia onde a medida de caráter matemático assume um papel essencial. Para os indianos a música une religião e filosofia, transporta o ouvinte para longe dos problemas do dia a dia para um lugar de paz e tranqüilidade. Ressaltando que a música indiana influenciou compositores europeus, sobretudo franceses. Por outro lado, o jazz, que vem a ser a música da população negra dos estados Unidos, possui aspectos conservadores, no que se refere à melodia e à harmonia, e inovadores, como as modificações harmônicas que são resultado da influência da música erudita. O hot, que diz respeito ao modo peculiar de expressão, e o swing, que é uma característica rítmica, um balanceio peculiar, são aspectos estilísticos que tornam o jazz revolucionário. O swing foi surgindo aos poucos depois da fase inicial do jazz e tem como alguns de seus aspectos a regularidade da marcação de tempo e a acentuação dos segundos e quartos tempos. Por outro lado, o swing cria a atmosfera para a improvisação coletiva e é resultado da fusão lenta de elementos rítmicos europeus com elementos africanos. Dentro do subtema do ritmo na música européia, temos o período românico, no qual a música erudita possuía uma rítmica muito simples, mais próxima do canto gregoriano. Em seguida, do final do século XII até o século XV, temos o período gótico em cuja fase inicial as músicas eram compostas dentro de um sistema rígido e angular que lhes confere um caráter rude e tosco, mas ao mesmo tempo viril. Já durante o século XIV, surgiu uma certa liberdade formal que fez nascer um sistema de organização denominado isorritmia, que permitia a construção de linhas melódicas mais sutis e expressivas. Contava também com a presença de notas isoladas curtas ou pequenos grupos de notas entre pausas, cantadas por uma voz em alternância com outra, intervindo esta nas pausas daquela. Se a música renascentista nos dá a sensação de um fluir mais ou menos tranqüilo, o ritmo da música gótica é irregular, quebrado, contorcido, carregado de tensão. Dessa forma, das muitas transformações sofridas pela música na passagem do período gótico para a renascença as do ritmo são as mais importantes. A racionalidade rítmica é amenizada por sutis inflexões, pequenas assimetrias e ouros recursos que dão mais flexibilidade ao ritmo. Na última fase do Barroco, 1680 a 1730, o ritmo é pesado, há a presença do baixo contínuo e nesse período a racionalidade rítmica atinge seu ponto culminante. Já no período Rococó-Clássico, que iniciou-se por volta de 1730, o ritmo é mais leve, mais variado, gracioso e dançarino. No lugar do baixo contínuo aparecem instrumentos de tessitura média que assumem a função rítmica, mas permanece a racionalidade rítmica. Por outro lado, no Romantismo se destaca a plasticidade que se realiza por meio de inflexões no andamento (rubatos) ou por meio da própria construção rítmico-melódica. Dessa forma, o ritmo acaba se tornando difuso, a tal ponto que se pode dizer que o ritmo se perde.No Romantismo o que interessa é o sentimento e não mais o ritmo. Em contrapartida, no século XX há uma redescoberta do ritmo como elemento vital e ritmos primitivos são trazidos para a música erudita. Alguns compositores escrevem obras para conjuntos formados somente por percussão, outros complicam o ritmo ou inventam uma nova estética em torno do ritmo. Enfim, no século XX, o ritmo adquire uma importância fundamental.




REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

KIEFER, Bruno. Elementos da Linguagem Musical. Porto Alegre: Editora Movimento, 1987.


[1] Aluna do curso de Licenciatura Plena em Música pela UFPA – Campus de Oriximiná. [marialdasantos@yahoo.com.br]

quinta-feira, 2 de junho de 2011

QUESTÕES RELEVANTES SOBRE O ENSINO DA FLAUTA DOCE


Resumo: O ensino na flauta doce na escola no Ensino Fundamental deve ser pautado por materiais didáticos que levem em consideração a prática de conjunto, o tocar de ouvido e aquilo que o aluno já sabe fazer. Deve também ser criteriosamente planejado pelo professor e acompanhar o desenvolvimento contínuo do aluno.


Palavras chave: ensino fundamental, prática, planejamento



A primeira função da disciplina educação musical é fazer com que o aluno possa ter variados tipos de vida musical, embasadas em experiências que sejam significativas para esse aluno. A flauta doce deve ser uma das alternativas para se incluir essa disciplina na rede escolar, mais precisamente no ensino fundamental, sem esquecer que a flauta é um dos recursos disponíveis, mas não o único. É possível aprender música fazendo, falando, analisando e refletindo, mas a vivência musical também é muito importante e a produção musical dos alunos deve ser levada em conta durante o processo de aprendizagem. Na prática, o que acontece é a restrição à execução deixando-se de lado a importância da composição e da apreciação para a aprendizagem. As aulas de música devem contar com diferentes formas de participação, deve ser dinâmica e complementada com informações sobre as músicas que forem sendo executadas. A expressividade é que deve ser valorizada em todas as aulas e devem ser descartados os exercícios puramente técnicos. Dessa forma, o trabalho não está centralizado nas atividades motoras e a técnica se subordina à música. O aluno deve tocar a mesma música com diferentes articulações, acentuações e andamentos, deve ser incentivado a tocar de ouvido para desenvolver as habilidades instrumentais, a audição interior e a autonomia, pois ele perceberá que não depende de partitura para tocar as músicas que gosta. Assim, o desenvolvimento musical do aluno por meio da apreciação vai influenciar a sua execução e sua composição e vice-versa. Por outro lado, em algumas propostas, a criatividade não é levada em conta durante todo o processo, somente se manifesta em atividades isoladas. Fato muito criticado, pois a atividade criativa deve estar presente durante todo o processo. Por outro lado, o aluno deve estar motivado para que ele estude, a realidade do aluno e a motivação são determinantes no aprendizado. Devem ser evitadas abordagens que considerem mais os aspectos técnicos, pois farão com que o aluno se desinteresse. Não se deve priorizar a forma como o repertório é trabalhado em detrimento ao seu gênero ou estilo. Em relação à motivação, o repertório é muito importante, mas a postura do professor, os princípios do seu trabalho, a coerência pedagógica e o respeito pelo aluno fazem toda a diferença. Deve haver o compromisso com a diversidade e em pensar a sala de aula e todas as suas características já que os alunos tem preferências, interesses, vivências, conhecimentos e habilidades musicais diferentes e que precisam ser valorizadas na sala de aula. Dessa forma, alternativas pedagógicas devem ser construídas para que se possa reconhecer e valorizar a diversidade dos alunos. Uma dessas alternativas é realizar dinâmicas em grupo; o grupo grande é interessante para a realização de explicações, exposições e discussões e na prática instrumental é bom fazer com que cada aluno toque uma parte com aquilo que já sabe fazer; já em grupos menores o professor pode atender as necessidades de cada aluno e acompanhar o seu desenvolvimento. Dessa forma os alunos tem mais autonomia e podem discutir suas ideias com os colegas. Por outro lado, a prática em conjunto e o recurso de tocar de ouvido são de suma importância para o aprendizado de flauta doce. Porém, ainda temos o questionamento feito por alguns professores sobre a avaliação nas aulas de educação musical, pois, para eles, essa disciplina não deveria reprovar os alunos já que tem haver com a subjetividade e isso a torna uma disciplina diferente das outras do currículo escolar. Para essas pessoas seria difícil até planejar as aulas, já que ela seria imprevista, pois o professor não saberia a reação de seus alunos. Porém, o plano de aula deve justamente refletir aquilo que o professor está querendo, é claro que ocorrem imprevistos e, dessa forma, o plano deve ser transformado, recriado e até substituído de acordo com a necessidade. Além disso, o professor deve estar consciente de que o plano é apenas o primeiro passo para que se realize o ensino e a avaliação não deve ser esporádica, deve fazer parte do próprio processo de ensinar. Como somente o professor conhece as necessidades, os interesses, as capacidades e a realidade de seus alunos só ele pode preparar um plano de trabalho adequado para atendê-los. Assim, o ensino deve sempre levar em consideração que todos os alunos devem participar com aquilo que já sabem e com que já são capazes de fazer (tocar ou cantar) seja lendo a partitura ou tocando de ouvido. A melhor forma de avaliar os alunos, já que cada aluno é único e a sua expressão musical também, é investigar e analisar as práticas de cada um. O professor precisa de critérios avaliativos que permitam estabelecer parâmetros para a comunicação com os alunos para informar o que foi aprendido e verificar o que precisa ser melhorado. As informações obtidas pela avaliação devem servir de base para repensar a prática de ensino e replanejá-la. A disciplina Educação Musical não visa formar um músico profissional, mas tem como objetivo, entre outros, auxiliar os alunos no processo de apropriação, transmissão e criação de práticas músico-culturais como parte da construção de suas identidades culturais e da cidadania. Dessa forma, a avaliação e o planejamento são de suma importância para o ensino da música, pois toda ação educativa possui uma intenção. Dessa forma[C3] , as questões principais são como ensinar [C4] e como avaliar[C5] . Esse texto buscou responder a essas questões, pois a prática em conjunto e a apreciação musical devem estar a frente de todas as outras questões, como as habilidades motoras, por exemplo; e o planejamento e a avaliação devem pautar a prática educacional do professor, pois ele deve identificar em que nível de aprendizado os seus alunos estão e em que nível eles devem chegar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HENTSCHKE, Liane e DEL BEM, Luciana. Aula de Música: do Planejamento e Avaliação à Prática Educativa. In: HENTSCHKE, Liane e DEL BEM, Luciana (org.) Ensino da Música: proposta para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. P. 176-190.