terça-feira, 12 de julho de 2011

ORATÓRIO

O nome vem do Oratório de São Felipe de Néri, em Roma, onde foram apresentadas as primeiras composições desse tipo. O oratório (do lat. oratorium = casa de oração, do lat. orar = orar) é um gênero de composição musical cantada de conteúdo narrativo. Semelhante à ópera quanto à estrutura (árias, coros, recitativos, etc.), difere-se desta por não ser destinado à encenação. Em geral, os oratórios têm temática religiosa, mas existem alguns de temática profana. A trama de um oratório comumente consiste em partes que descrevem as ações da trama e partes que comentam o ocorrido.
Os principais compositores de oratório no século XVII foram o italiano Carissimi (1605 – 1674) e o alemão Schuetz (1585 – 1672). Porém os maiores oratórios do período Barroco são os de Haendel, compostos durante a primeira metade do século XVIII, com texto em inglês. Esses oratórios constituem um gênero novo, que não pode ser equiparado ao oratório italiano e nem ao londrino.
                                                           Bach
Por outro lado o oratório desperta o interesse de autoridades eclesiásticos e estabelece-se como forma musical representativa em todos os centros de Itália: Roma, Bolonha, Módena, Florencia, Veneza, Nápoles. Costuma-se preferir o oratório italiano ao latino pela liberdade formal que promove.
                                                                         Carissimi

Compositores de importância são Marco Marazzoli, Domenico Mazzocchi, Pietro Della Vale, Luigi Rossi, Giacomo Carissimi, Francesco Foggia, Alessandro Stradella, Alessandro Scarlatti, Vincenzo De Grandis, Giovanni Carlo Maria Clari, Antonio Caldara, Carlo Francesco Pollaiolo, Tommaso Pagano, Donato Ricchezza e outros.
Em meados do século, o oratório estabelece-se também em Viena, graças a duas autoridades venecianas com funções musicais no corte Giovanni Priuli (ca. 1580-1629) e Giovanni Valentini (1582-1644).
Na França, as Guerras contra os Hugonotes e o absolutismo causaram uma pausa de quase um século, especialmente no campo da música eclesiásticas. Devido essas condições, nem a ópera do tipo italiano nem o oratório podiam estabelecer-se. Marc-Antoine Charpentier (ca. 1645-1704) compôs alguns oratórios. No entanto, sua obra foi um acontecimento atípico cuja influência na história foi muito limitada.
Durante o século XVIII, Itália segue sendo um dos centros de criação de oratórios. Por volta de 1750, o baixo contínuo é reconduzido pelos meios da época clássica (orquestra do tipo Mannheim). O domínio da ópera napolitana influi no oratório de tal maneira que o aria dá capo é parcialmente substituída por outras formas de aria como cavatinas e rondós). O número de coros, elencos e peças instrumentais aumenta. No entanto, o oratório mostra-se estilísticamente mais conservador que a ópera. Nem os elementos característicos da ópera bufa, nem o manejo de motivos e temas clássico encontram uso no oratório. A maior parte das obras está escrita sobre textos italianos.
Entre 1730 e 1740, o poeta Pietro Metastasio escreveu sete libretos de oratórios que foram postos em música inumeráveis vezes durante as décadas seguintes. Nesses libretos há um intercâmbio permanente entre recitativo e ária. O recitativo tem um carácter altamente narrativo, contemplativo e moralizador. Um evangelista ou testemunha como instância narrativa central normalmente não existe.
A maioria dos compositores dessa época eram empregados das grandes instituições eclesiásticas. Os mais importantes foram Niccolò Jommelli, Giovanni Battista Casali e Pietro Maria Crispi em Roma, Giovanni Battista Martini em Bolonha, Baldassare Galuppi em Veneza e Domenico Cimarosa in Nápoles.
O oratório protestante na Alemanha toma um desenvolvimento independente ao da Itália. Os inícios são Paixões em forma responsorial e histórias. Os textos não se limitam à Biblia, senão que contêm comentários e meditaciones. No marco alemão, os Kleine Geistliche Konzerte, as exequias musicais (1635) e as sete palavras de Cristo na cruz (1645) de Heinrich Schütz, escritas durante a Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648) foram temporãs fazes cimeiras. Schütz estabeleceu o papel central do evangelista e a dramaturgia de três planos. O instrumentario foi limitado, acomodando às circunstâncias do país devastado pela guerra.
As obras de Schütz posteriores à guerra (Paixões segundo San Lucas (em 1664), San Mateo (1665) e San Juan (1666) e a História de Navidad (1664)) recorrem a instrumentarios mais amplos e precisamente definidos e à dramaturgia de três planos com declara, personae e coro. A forma pode considerar-se o modelo para o oratório protestante.
Dietrich Buxtehude, cantor em Lübeck, escreveu Abendmusiken (músicas para a tarde) para o uso eclesiástico. Suas composições tinham cinco partes. Como textos usava versos da Bíblia e poemas e corais eclesiásticos. A forma tinha semelhança ao oratório italiano.
O primeiro oratório do século XVIII foi «Der blutige und sterbende Jesus», composto por Reinhard Keiser, cantor em Hamburgo. Dessa obra só tem sobrevivido o libreto de Christian Friedrich Hunold. A estréia foi em 1704 em Hamburgo.
O novo da obra é que o libreto não consiste no texto bíblico, senão de uma paráfrases em forma de verso rimado. O tratamento livre do texto foi razão de fortes críticas por parte da direcção eclesiástica de Hamburgo. Os mesmos também criticavam o desenvolvimento ágil da ópera de Hamburgo. Portanto, nem os oratórios de Keiser, nem os de Johann Mattheson ou Georg Philipp Telemann foram apresentados em igrejas. Portanto, em Hamburgo o oratorio perdeu seu lugar dentro da liturgia e converteu-se de um género eclesiástico em um género de concerto.
O oratório «Der für die Sünde der Welt gemarterte und sterbende Heiland» de 1712 sobre um texto de Barthold Heinrich Brockes com música de Reinhard Keiser é de soma importância. O libreto, o telefonema «Brockes-Passion», foi utilizado posteriormente por vários compositores de renome, como Georg Friedrich Haendel (1716), Johann Mattheson (1718), Georg Philipp Telemann (1722), entre outros. Com o texto de Brockes, o gênero do oratório chegou a ter sucesso duradouro na Alemanha.
Os temas do oratório barroco na Alemanha limitavam-se comumente à Semana Santa e ao Natal. Fora de Hamburgo, só poucos oratórios se conhecem antes da obra monumental de Johann Sebastian Bach. Há oratórios de Semana Santa de Carl Heinrich Graun (Dresde), Gottfried Heinrich Stölzel (Gotha) e Christian Friedrich Rolle (Magdeburg). Outros centros fueros temporariamente Danzig, Schwerin-Ludwigslust, Berlim e Leipzig.
Em comparação, o oratório italiano do século XVIII pouco mais era do que uma ópera de tema sacro, apresentada em forma de concerto, em vez de ser encenada; o próprio Haendel escreveu em Roma uma obra desse gênero, La ressurrezione (1708). Os oratórios ingleses eram um prolongamento dessa tradição pelo fato de os diálogos serem, também nelas, compostos como recitativos e os versos líricos como árias.
                                                                          Haendel

Assim a maior parte das árias destas obras não diferem em nenhum aspecto importante (nem na forma, nem no estilo musical, nem na natureza das ideias musicais, nem na técnica de expressão das emoções) das árias das óperas. Outra semelhança é a preparação do clima de cada ária para que ela seja introduzida pelo recitativo que a precede.
Mas Haendel adicionou elementos que eram estranhos à ópera italiana e tinham origem na masque inglesa, no hino coral, no teatro clássico francês, na antiga tragédia grega e na história alemã. As adaptações de ordem prática ao ambiente londrino contribuíram igualmente para fazer dos oratórios de Haendel algo de diferente da ópera convencional do século XVIII.
De início, a diferença era logo sentida pelo fato dos oratórios de Haendel serem em inglês. O italiano cativara o público inglês mais snob, porém mal era entendido pela maioria dos ouvintes. Dessa forma, o uso do inglês atraia a classe média que constituía a maior parte do público ouvinte nesse momento. Por outro lado, havia a necessidade de novos temas para as apresentações. Todos os oratórios de Haendel, em especial as mais populares, se baseiam em episódios do Antigo Testamento.
Nem todos os oratórios de Haendel eram de temas religiosos. A maioria dos oratórios bíblicos mantém-se muito próxima da narrativa original, mas o texto é reescrito em recitativos (umas vezes em prosa, outras em versos rimados), árias e coros. Israel no Egipto, em contrapartida, relata a história do êxodo exatamente como a Bíblia conta. O Messias também tem um texto exclusivamente bíblico, mas é o menos típico de todos os oratórios de Haendel, pois não conta uma história: é uma série de meditações sobre a ideia cristã da redenção, começando nas profecias do Antigo Testamento e seguindo a vida de Cristo até o seu triunfo final.
Porém a maior inovação que Haendel introduziu em seus oratórios foi a utilização do coro. Certamente que o coro já desempenhava o seu papel nos oratórios latinos e italianos de Carissimi, mas os oratórios posteriores incluíam, quando muito, alguns “madrigais” e trechos de conjunto, por vezes assinalados com a indicação coro. Certamente foi a tradição coral inglesa que mais o influenciou, Haendel atingiu o perfeito domínio desta linguagem musical inglesa com os hinos chandos, escritos em 1718 e 1720, obras-primas da música sacra anglicana, a que o compositor muitas vezes foi buscar material para ulteriores composições. Em alguns oratórios, ele dá grande peso e importância aos coros, que descrevem com nitidez os acontecimentos mais dramáticos da história.
Por outro lado, Bach compôs o Oratório de Natal, e também três versões da Paixão – forma muito especial de oratório que conta a história da crucificação de Cristo. Nessas obras, além de recitativos, árias e coros, Bach incluiu corais (hinos alemães), que usou em pontos- chaves para intensificar os momentos mais solenes e comovedores da história.
Foi escrito para o Natal de 1734, incorporando a música de composições anteriores do próprio compositor, inclusive três cantatas seculares, escritas entre 1733 e 1734, e uma cantata extraviada nos dias de hoje. A data é confirmada no manuscrito de Bach. A apresentação seguinte não foi antes de 17 de dezembro de 1857 pela "Sing-Akademie" de Berlim, regida por Eduard Grell.
Essa obra pertence a um grupo de três oratórios escritos no final da carreira de Bach, em 1734 e 1735, para as principais festividades, sendo os outros o Oratório de Ascensão e o Oratório de Páscoa. Todos eles incluem um tenor Evangelista como narrador e fazem paródia de composições anteriores, sendo o "Oratório de Natal" a obra mais longa e complexa.
O oratório tem seis partes, sendo cada uma delas destinadas a apresentação em um dia das festas principais do período natalino. Modernamente, a peça é geralmente apresentada como um todo, ou dividida em duas partes iguais. A duração total da obra é aproximadamente três horas. De modo similar aos outros oratórios, um tenor Evangelista narra a história.
A primeira parte (para o dia de Natal) descreve o Nascimento e a Nominação de Jesus; a segunda (para o dia 26 de dezembro), a Anunciação dos Pastores; a terceira (para 27 de dezembro), a Adoração dos Pastores; a quarta (para o Dia de Ano Novo), a Circuncisão de Jesus; a quinta (para o domingo após o Ano Novo), a Jornada dos Reis Magos, e a sexta (para a Epifania), a Adoração dos Reis Magos.
A música representa uma especial expressão sofisticada da técnica de paródia, pela qual uma música já existente é adaptada a um novo propósito. Bach tomou a maioria dos coros e árias de obras que tinham sido escritas por ele anteriormente. A maioria dessa música era secular, que foi escrita em louvor da realeza ou notáveis figuras locais, saindo da tradição de apresentação dentro da igreja.











Bibliografia

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SCHEIDELER, Silke Leopold, Ullrich Scheideler. Oratorienführer. Metzler, Stuttgart 2000.

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Oratorium. em: Die Musik in Geschichte und Gegenwart. Allgemeine Enzyklopädie der Musik, begründet von Friedrich Blume. 26 tomos em 2 partes, editado por Ludwig Finscher. Metzler, Stuttgart 1994.

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